De como as novas tecnologias mudaram também o artesanato

A digitalização supôs uma revolução para os negócios e a vida profissional facilitando os processos e a comunicação, além de dar acesso a conhecimentos e informação ilimitados. Isto, unido à chegada ao mundo laboral de uma nova geração que cresceu nos ecrãs, pode propiciar que, em ocasiões, os trabalhos mais artesanais e o trato one to one fiquem para segundo plano.

Artesanato e digitalização no cabeleireiro

Mas não devemos esquecer que o verdadeiro sentido do cabeleireiro reside, precisamente, no contrário ao virtual: no vínculo que se cria entre o profissional e o cliente, presencial, e no trabalho físico e à medida que se realiza nos salões para dar resposta às suas necessidades e desejos específicos.

Neste contexto, é imprescindível, e segundo os especialistas, que artesanato e digitalização aprendam a conviver em igualdade de condições, que somem esforços e respeitem cada uma o seu âmbito de atuação, para poder continuar a crescer e a melhorar como profissionais. Três reconhecidos profissionais dão-nos as chaves para o conseguir.

Instagram: @annabarroca

Reivindicar as origens

Para Anna Barroca, diretora do Salão Anna Barroca em Andorra: “vivemos na era digital e isto oferece-nos muitas vantagens, mas não podemos perder de vista a nossa origem, o trabalho artesanal, que vai sempre depender do ser humano”.

Neste sentido, Barroca assinala a importância da formação para manter em dia as habilidades técnicas da profissão.

“Estamos a encontrar-nos com profissionais que têm carências em relação à atualização dos seus conhecimentos, que deixaram de investir no seu crescimento profissional; mas a formação não acaba nunca, há sempre novas perspetivas que nos podem ajudar a ser melhores”, diz a estilista.

Outro elemento sobre o qual alerta é a alta adição que podem criar os meios digitais e a perda de socialização. Assim aponta: “temos a capacidade de nos relacionarmos com outras pessoas de expressar emoções e sentimentos. A atenção ao cliente está a converter-se num bem escasso e devemos reforçá-la”.

Instagram: @christianriossalon

A digitalização como aliada

Do que não cabe dúvida nenhuma é que os meios digitais constituem uma ferramenta muito potente e eficaz para poder impulsionar os negócios e as nossas próprias carreiras como profissionais.

Tal como explica Christian Ríos, director do Salão Christian Ríos Hair Couture, em Vilanova i la Geltrú (Barcelona), e segundo a sua própria experiência, “graças às ferramentas digitais pode gerir de uma forma muito mais eficiente o meu negócio. Também são uma janela ao mundo: permitem-me chegar a um público muito mais amplo e compartilhar, não apenas o trabalho que fazemos, como como o fazemos, aquilo que nos diferencia do resto da concorrência”.

Outra das vantagens que Ríos assinala em relação à digitalização e, concretamente, às redes sociais é que supõem “uma fonte inesgotável de inspiração. Posso ver o trabalho de outros cabeleireiros de todo o mundo, estar em dias em relação às tendências em outros setores, informar-me sobre a atualidade do setor… Isto enriquece-me como profissional”, conclui.

Instagram: @antonioeloyescuela

A especialização continua a ser chave

Se há algo que nunca muda, especialmente no setor do cabeleireiro, é a importância da especialização. Esta deve ser ampla e sólida, ou seja, deve permitir aos profissionais dar resposta eficaz a uma clientela cada vez mais exigente. Como assinala Paloma González, responsável da área de Cabeleireiro de Antonio Eloy Escuela Profissional de Málaga: “o mais importante é poder passar os novos conhecimentos ao dia a dia do salão, ao trabalho direto com os clientes, e isso consegue-se através da prática”. Por este motivo, se bem que os cursos online são muito úteis em relação à acessibilidade e de especialização: “a única forma de dominar as técnicas é aplicando-as. O nosso corpo docente acompanha os alunos neste caminho, resolvendo as suas dúvidas à medida que surgem e ajudando-os a potenciar e aperfeiçoar as suas habilidades de forma personalizada”.